É hora de comprar ações da Petrobras?

“É melhor estar aproximadamente certo do que definitivamente errado” constitui-se em uma das mais importantes lições oferecidas pelo economista John Maynard Keynes. Quando o assunto é investimento em ações, são possíveis duas posturas distintas: investidor ou especulador. Investidor é aquele que busca conhecer a empresa em que está investindo, avaliando suas estratégias e expectativas de crescimento. O especulador, por sua vez, compra a ação de uma empresa simplesmente sob a justificativa de que está barata, com uma perspectiva de elevado retorno. Nunca é demais reforçar que o investimento em ações envolve risco e não há garantia de retorno futuro.

 

Nos últimos meses, vem chamando atenção a quantidade de pessoas me perguntando se chegou o momento de comprar ações da Petrobras. É do conhecimento de todos que a empresa foi vítima de uma gestão temerária. Como resultado desse processo, testemunhamos os desvios de dinheiro sendo apurados pela operação Lava-jato e a destruição de valor da empresa, cerca de R$ 436 bilhões nos últimos 8 anos. Além disso, fatores externos, como a queda no preço do petróleo e o compulsório (e equivocado?!) investimento no Pré-Sal, fez com que os lucros caíssem, a empresa passasse a dar prejuízo e as dívidas aumentassem.

 

Ainda que o preço das ações esteja historicamente baixo, afirmar, categoricamente, que chegou a hora de investir na Petrobras exige cautela. O melhor momento para a Petrobras foi registrado em maio de 2008, com as ações preferenciais (PETR4) sendo cotadas a R$ 37,58 e as ordinárias (PETR3), a R$ 47,28. É importante registrar que, nessa época, o barril de petróleo era comercializado a US$ 125,00.

 

Após 8 anos, as ações preferenciais encontram-se na faixa dos R$ 8,00, enquanto que as ordinárias na faixa dos R$ 10,00. Já o barril de petróleo encontra-se a US$ 50,00. Sabe-se que existe uma forte correlação positiva entre o preço do barril de petróleo e o desempenho da empresa. Todavia, enquanto o preço do petróleo caiu 60% no período, as ações experimentaram uma queda de 80%, o que corrobora, em parte, as deficiências já apontadas na gestão da empresa.

 

Por outro lado, em 2015 a Petrobras iniciou um processo de ajuste de seu planejamento estratégico, reavaliando o portfólio de projetos da companhia, bem como promovendo um amplo programa de desinvestimentos e venda de ativos. Essa reestruturação implica em uma redução de 25%, cerca de US$ 32 bilhões, nos investimentos a serem realizados no quinquênio 2015-2019. Uma redução dessa magnitude apresenta reflexos inexoráveis no crescimento da empresa.

 

Da mesma forma, não se pode negligenciar a volatilidade na cotação das ações da empresa. Volatilidade é um conceito frequentemente associado ao risco. Por volatilidade, entende-se a medida estatística da possibilidade de um ativo cair ou subir, muitas vezes de forma significativa, em um determinado período de tempo.

 

De modo prático, indica a intensidade das flutuações no preço de um determinado ativo. O retorno acumulado das ações ordinárias da Petrobras nos últimos 6 meses foi de 10,2%, apresentando uma volatilidade de 73,4%. Já as preferenciais apresentaram 6,9% de retorno e uma volatilidade de 76,9%. Para ilustrar a importância do conceito de volatilidade, nesse mesmo período, a Exxon Mobil, gigante do setor de petróleo, apresentou um retorno acumulado de 9,5%, porém, com uma volatilidade de apenas 23,9%.

 

Enquanto a volatilidade estiver em alta, a Petrobras tende a ser um ativo mais alinhado ao perfil do especulador, reiterando que o investimento em ações envolve riscos, sem garantia de retorno. Não obstante, é vox populi: “O melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada. O segundo melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo mal administrada”.

Prof. Andriei José Beber, Dr. (andriei@andrieibeber.com.br)