Inflação: preços altos e poder de compra menor trazem dificuldades aos brasileiros

Professor da FGV ressalta importância de o país passar por um ajuste fiscal para que a economia volte a crescer.

 

Você já percebeu que suas compras no supermercado, por exemplo, passaram a ter um valor consideravelmente maior, se comparado ao mesmo período do ano passado ou de alguns meses atrás? Um dos motivos para isso é a inflação, que acaba corroendo a moeda brasileira e diminuindo seu poder de compra.

 

De acordo com o professor da FGV e palestrante nas áreas de Finanças, Gestão e Governança, Andriei Beber, a inflação é algo inerente a qualquer economia. Ela se caracteriza pelo aumento continuado e generalizado dos preços de bens e serviços, que resulta na diminuição do poder aquisitivo de uma moeda. O último Boletim Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central, aponta que a inflação este ano, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) será de 6,88%. Para 2017, a estimativa caiu de 5% para 4,94%. As projeções ultrapassam o centro da meta que é 4,5%. “Muitos especialistas afirmam que um pouco de inflação pode até ser algo bom. Os mais conservadores apontam, inclusive, que um patamar de 2% ao ano não seria prejudicial para o crescimento. Contrariamente, esses mesmos especialistas ponderam que um nível inflacionário da ordem de 10% ao ano seria prejudicial para economia”, explica o professor.

 

Para Andriei, a causa da inflação não é, necessariamente, o aumento dos preços. Pode ser um exagero na oferta da moeda. “Quem tem mais dinheiro disponível se torna menos criterioso na hora de gastar e acaba pagando mais caro”, comenta. Quando os preços sobem, destaca, o valor da moeda cai. Para muitos economistas, o problema central da inflação não é o aumento dos preços, mas o dano que provoca sobre o processo de formação de riqueza. “Em tese, é a oferta maior de moeda que desencadeia o aumento de preços. Para uma quantidade constante de dinheiro e uma quantidade crescente de produtos, a tendência dos preços é de queda”, explica Beber.

 

Ajuste fiscal

 

Ainda conforme o professor, a inflação brasileira sempre foi considerada uma espécie de mistério a ser decifrado. Desde 1981, o Brasil teve seis moedas diferentes. Na década de 1980, a inflação acumulada no país foi de 36.850.000%. “Em 1994, com a implantação do Plano Real esse número diminuiu consideravelmente e a inflação passou a ser controlada, no entanto, diversas mudanças ocorreram desde então e ela segue sendo algo que merece toda a atenção”, afirma Beber.

 

A inflação do país também tende a piorar quando há o chamado “dinheiro criado a partir do nada”, por meio de débitos e empréstimos. De acordo com Andriei, trata-se do sistema de reserva fracionária que permite aos bancos fazerem empréstimos ou investimentos em quantidade superior ao valor dos seus depósitos, desde que mantenham como reserva uma determinada fração desses depósitos, baseando-se na crença de que os depositantes não sacarão o seu dinheiro ao mesmo tempo. “Esse processo tende a gerar aumentos na oferta monetária, dando origem a atividades não-produtivas e levando a um inevitável enfraquecimento econômico. Consequentemente, as taxas de juros são reduzidas e aumenta a oferta de dinheiro sem, necessariamente, a impressão de novas notas”, diz.

 

Para ele, é necessário que o país sofra um choque de realidade e passe por um ajuste fiscal bem planejado. “Todos os países que fizeram ajuste fiscal cresceram no período seguinte. Isso começou em 1986 na Nova Zelândia, que foi o primeiro país do mundo a criar o regime de inflação. Depois veio Noruega e a Inglaterra, que, igualmente, registraram crescimento econômico em seguida”, salienta Beber.